Os seres humanos são essencialmente compostos por um oceano de emoções. No decorrer de cada momento, seja no despertar do dia ou nas fronteiras dos sonhos, nos deparamos com um fluxo ininterrupto de sentimentos que prescindem de qualquer validação ou unanimidade.
As emoções constituem uma parte imensa, talvez a mais relevante, que nos distingue como seres humanos. E maior perigo está em não levarmos a sério esse território de nossas vidas.
Esta incapacidade de lidar de maneira saudável com a nossa vida emocional cobra um preço amedrontador, como revelado por números alarmantes publicados pela Universidade Yale, dos EUA.
• Em 2017, cerca de 8% dos adolescentes de 12 a 17 anos e 25% dos jovens de 18 a 25 anos eram usuários atuais de drogas ilícitas.
• O número de incidentes de intimidação e assédio em escolas K-12 dos EUA relatados à Liga Antidifamação dobrou a cada ano entre 2015 e 2017.
• De acordo com uma pesquisa Gallup de 2014, 46% dos professores relatam alto estresse diário durante o ano letivo. Isso está empatado com os enfermeiros na taxa mais alta entre todos os grupos ocupacionais.
• Uma pesquisa Gallup de 2018 revelou que mais de 50% dos funcionários não estão engajados no trabalho; 13 por cento deles são miseráveis.
• Em 2016–2017, mais de um em cada três alunos em 196 campos universitários dos EUA relataram problemas de saúde mental diagnosticados. Alguns campos relataram um aumento de 30% nos problemas de saúde mental por ano.
• De acordo com o Relatório Mundial de Felicidade de 2019, sentimentos negativos, incluindo preocupação, tristeza e raiva, aumentaram em todo o mundo, aumentando em 27% de 2010 a 2018.
• Os transtornos de ansiedade são a doença mental mais comuns nos Estados Unidos, afetando 25% das crianças entre treze e dezoito anos de idade.
• A depressão é a principal causa de incapacidade em todo o mundo.
• Problemas de saúde mental em todo o mundo podem custar à economia global até US$ 16 trilhões até 2030. Isso inclui custos diretos de assistência médica e medicamentos ou outras terapias e custos indiretos, como perda de produtividade.
Nós, independentemente das nossas peculiaridades - sejam tagarelas ou silenciosos, criativos ou pragmáticos, ansiosos ou despreocupados - temos a capacidade de aprender a lidar de maneira mais eficiente com nossas emoções.
As competências emocionais são habilidades nítidas, simples e comprovadas, que podem ser desenvolvidas por qualquer pessoa, em qualquer etapa da vida.
Porém, por que é tão árduo lidar com as emoções?
Por que elas nos assombram tanto?
Por que é mais cômodo reprimi-las ou ignorá-las do que
enfrentá-las?
A resposta é simples, mas complexa em sua essência: medo. Tememos sentirmo-nos vulneráveis, expostos, suscetíveis a feridas. Temos medo de parecer frágeis, de sermos julgados, de não sermos amados. E, sobretudo, tememos perder o controle.
Esse medo, contudo, nos impede de viver intensamente, de experimentar todas as nuances da vida, de compreender a nós mesmos e aos outros em um nível mais profundo.
Podemos aprender a nos relacionar de maneira mais saudável com nossas emoções. Podemos aprender a lidar com elas, em vez de tentar reprimi-las ou ignorá-las. Podemos aprender a acolhê-las, a respeitá-las, a integrá- las em nossas vidas.
Somos capazes de experienciar a totalidade da vida, com todas as suas alegrias e tristezas, seus êxtases e angústias, suas vitórias e derrotas. Somos capazes de nos conectar com os outros em um nível mais profundo, de compreender e ser compreendidos.
Somos capazes de viver de forma autêntica, alinhados aos nossos valores e desejos, sem a necessidade de ocultar ou disfarçar nossos sentimentos.
Então, com coragem e amor, concedamos a nós mesmos a autorização para melhores emoções. Vamos desbravar o espaço para nossas emoções, para nosso universo interior.
Vamos honrar nossos sentimentos, nossa vulnerabilidade, nossa humanidade. E, nesse processo, vamos desvendar a beleza e a riqueza de ser quem verdadeiramente somos.
Somos jardineiros de nossa própria mente, devemos cultivá-la com sabedoria, regando nossas emoções com compreensão e empatia.
Quando permitimos que nossas emoções apareçam, as aceitamos e as compreendemos, estamos nos permitindo ser humanos, nos permitindo viver.
Autorize-se a sentir, a vivenciar a totalidade da vida, a ser humano em sua plenitude.
Silas Barbosa Dias, é doutor pela Free University Amsterdam (Holanda). Mestre pela Université de Geneva (Suíça). Bacharel em Teologia e Licenciado em Filosofia. Especialista em Psicoterapia e Psicanálise. Com experiencia de mais de 45 anos, criador do modelo psicoterapêutico conhecido como teopsicoterapia. Fundador da ABRATHEO. Diretor da AdVerbum. É professor universitário há 35 anos. Filósofo, teólogo e psicoterapeuta, autor de vários livros. Coordena as Pós-graduações em RH - Gestão de Pessoas e Competências, e MBA em Teoterapia e Competência Emocional (UniFil – Centro Universitário de Londrina). Professor nos cursos de Psicologia, Teologia e Serviço Social. Autor de vários livros editados no Brasil e Europa.
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