Uma perspectiva Teoterapêutica do filme: Procurando Nemo.
Sempre fui uma criança completamente apaixonada por desenhos. A forma como eles abriam a minha mente e me faziam sair da minha realidade emocional, que naqueles dias já não era muito fácil, era algo encantador. "Procurando Nemo" foi lançado em 2003 e, aos 13 anos de idade, perdi a conta de quantas vezes assisti aquele filme. Adorava a forma como o pai lutava bravamente em busca de encontrar o filho, isso me encantava profundamente. Eu, uma criança de 13 anos que já havia enfrentado o abuso sexual na infância, sonhava com alguém que lutasse bravamente para me encontrar e me salvar dos terrores de minha alma.
Hoje, já adulta e mãe, após passar por um processo terapêutico, compreendo a importância de sermos curados para não transmitir os meus traumas para a minha filha, que hoje está com 3 anos de idade. Em um belo dia, sentei com ela para mostrar os filmes que eu mais amava na minha infância, e o primeiro deles foi "Procurando Nemo". No entanto, diferente daqueles dias em que eu entrava no mundo da imaginação procurando alguém que me salvasse dos meus temores, hoje, estudante de Teopsicoterapia apaixonada pela análise transacional, compreendi integralmente a devastação que um trauma pode causar em uma família.
Pai: Recém-chegado à nova vizinhança, o pai sofre um trauma violento. Não bastavam as dificuldades com a adaptação a um novo lar e a paternidade pela primeira vez, ele vivenciou um dos processos mais traumáticos na vida de um ser humano: o luto. No entanto, não se permitiu vivenciar o processo, pois o adulto interior lhe chamava para a responsabilidade de pai, não dando a ele tempo para vivenciar o luto e receber a cura. Entrou em fase de negação, pois precisava cuidar do filho que ficou, mas também não era fácil, pois este trazia marcas desse trauma. Assim, o pai traumatizado entrou em um processo de proteção excessiva com o filho, o que gerou uma personalidade rebelde na criança. Essa superproteção fez com que o filho tomasse decisões impensadas com consequências graves, e o pai viu diante de seus olhos alguém levar o seu filho sem poder fazer nada. Desesperado, correu loucamente tentando resgatá-lo. O Criador, porém, tinha para ele um propósito de resgate de seu eu saudável. Na busca pelo filho, o pai enfrentou os seus traumas que o oceano lhe trouxe, tendo a oportunidade de vencer seus medos e traumas. Em seguida, encontrou alguém que também passou por um trauma de abandono, mas que já vivenciou um processo terapêutico e aprendeu a lidar com suas frustrações. Apesar da dificuldade de memória, essa pessoa ajudou o pai a enfrentar seus medos, mostrando que não importa o que aconteceu de ruim no passado, o segredo para alcançar a vitória é continuar seguindo em frente, passando por todos os processos, fortalecendo o adulto interior e removendo os traumas, reurbanizando as suas favelas psíquicas com novos registros. Assim, o pai se transformou em um pai encorajador, curado, compreensivo e empático.
Filho: Como toda criança, estava louco para aprender sobre o mundo à sua frente. Vendo o pai podando-o diversas vezes, desenvolveu uma personalidade desafiadora. No seu primeiro dia de aula, longe dos olhos daquele pai que para ele era um monstro podador de sonhos, a liberdade, ao invés de ser algo bom, tornou-se algo ruim. Quando o pai apareceu novamente, podando-o e dizendo que ele não era capaz, o seu eu doente assumiu o palco e o fez tomar uma decisão impensada que trouxe grandes consequências. Mas o Criador tinha um propósito em tudo isso. A dor nunca é o propósito do Criador, mas até na dor ele cria um propósito. Quando o filho foi levado, ele se viu em um mundo totalmente novo, longe do pai protetor, e perguntou-se quem o protegeria agora. No entanto, também se sentiu livre para viver o que quisesse, sem o pai controlador. Ele se viu diante de várias pessoas diferentes, que se tornaram uma família para ele - uma família acolhedora e incentivadora que ele nunca havia experimentado antes. O líder dessa nova família, um homem experiente pela vida, ensinou ao Nemo que nada é impossível para ele e que as dificuldades que ele tinha estavam somente em sua mente. Apesar de suas deficiências, ele foi projetado pelo Criador para fazer coisas que ninguém mais poderia. Ele encontraria propósitos únicos, próprios para cada ser humano. Essa nova liberdade e vida não vivida foram, inicialmente, desconfortáveis e difíceis. O medo e a insegurança assumiram o lugar, mas, com o incentivo do pai, que enfrentava seus próprios traumas para encontrá-lo, o filho encontrou coragem para viver essa vida não vivida e, finalmente, se reencontraram.
Contudo, na vida, sempre teremos momentos desafiadores que nos colocarão à prova para saber se realmente estamos mudados e curados. Agora, sua amiga está vivenciando um momento difícil, e pai e filho, já tratados e curados, conseguem confiar um no outro e trabalham juntos em favor dela. Dois curados mudam a mente de um cardume, pois quem é curado cura, quem é amado ama, e quem está ferido fere. Cabe a nós sabermos em que posição nos colocaremos. O pai, que antes proferia palavras dolorosas e destrutivas, agora dá lugar a um pai incentivador, encorajando todos ao seu redor. Assim, todos conseguem alcançar suas liberdades, e os três retornam para suas casas curados, encorajados e com um testemunho incrível, tornando-se agora exemplos para a sociedade em que vivem.
Como pais, precisamos todos os dias pedir ao Criador que nos ajude a vencer nossos traumas, colocando pessoas curadas ao nosso lado para nos ajudar a viver essa vida não vivida que está preparada, esperando pelo nosso eu saudável. Todos os dias tenho aprendido, através da abordagem da análise transacional, a remover o meu eu doente, renovar o meu eu saudável e me revestir de uma vida não vivida, transmitindo o melhor que há em mim para a minha geração. Assumindo o controle de minhas emoções, hoje posso ajudar, mostrando através da teopsicoterapia, que é possível viver algo novo, pois pais curados geram filhos saudáveis.
Flaviane Pereira
Terapeuta Capilar
Estudante de Teopsicoterapia.
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